domingo, 17 de abril de 2011

"Pindorama", de Raymundo Netto, em lembrança da invasão do Brasil


PINDORAMA

Que pesavam sobre as caravelas,

Escaras velhas,

Monótonos fados enfadados

Lusos emboabas mascates

Mascotes de Império

Em pústulas, postulantes de epístolas de apoderação

Poder Ação

E Morte.


Que desciam das caravelas

Fid-algas ervas daninhas

Danosas curiosas solitárias e famintas

Em séquito de predação e aporte

A exortar do forte Portugal a sorte

De atentar o Nativo da terra branca inda ilha

E a filha do homem nudipelo que lhe deu amparo

Recebendo em troca desespero amaro

Velas desfraldes de realentejo-alentejoulas

Espelhos colares de contas amuletos

Oraçoeiros cruz sagrada e sangrenta e sonetos

Grafados a pau na brancareia.


A carta de Vaz entre araras e papagaiadas

Caminha entre virgens alfaiadas

afinal.


A Caravela se foi a singrar o mar

A sangrar de mal

A novidade, coberta da lêndea, de sífilis, de mentira e da ganância

Etnocêntrica

A contar a terra verde descoberta

A descobrir a porta aberta

De a nova Civilização.


Largadas largas velas no céu descoberto ao mar aberto

À lharga criolina nos olhos da menina esquecida na baía

Engolfada em palavras crióis pelos cutubas

Que traziam das caravelas

A água de fogo, a impureza para a virgem e a desonra nativa.


A escravidão em sua própria terra de oiruda esperança viva:

“Orabutã! Orabutã!”

Núncia vaga em trança na estreita boca Verdesmeraldinada

Em barbas brancas baças e brumosas

Em nada

Manchando o leito de um povo pobre com opróbrios

Deitando a lenha em Curumins em uma terra desprotegida.


O que ficou das caras velas

Não foi a glória

O que restou das rotas velas foi só a história.

No poema triste da memória sem valor

E das Palmeiras onde o sabiá, por um dia,

Cantou.



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