terça-feira, 19 de novembro de 2013

"GeRatão Coca-Cola", crônica de Raymundo Netto para o almanaque "De Um Tudo" (10.2013)


O rato roeu a rolha do rem... não, gente, isso é coisa do passado. O rato entrou mesmo foi numa garrafa de Coca-Cola. Dentre todos os refrigerantes, ele, que é rato mas não é besta, escolheu o melhor, o que “dá vida a tudo!”, porém, não leu o manual de instruções, inebriou-se de caramelo IV até as fuças, tal qual um d. Ratão da história da dona baratinha, que morreu porque enveredou com a cara e a coragem num latão fervente de feijoada, tendo semelhante e trágico final. Acho que era isso que o poeta Fernando Pessoa queria dizer quando escreveu o slogan luso da xaropada: “Primeiro, estranha-se; depois, entranha-se", o que convenceu o diretor de saúde de Lisboa a jogar uma carga inteira de Coca no infante mar português, que de salgado ficou doce, feito as lágrimas das raparigas.
A Coca-Cola tem diversos defeitos, mas há um mais imperdoável de todos: ser sucesso! A Pepsi, por exemplo, “pode ser”, mas a Coca “é isso aí”. Tem mais de 120 anos – foi criada em 1886, mas apenas em 1893 foi registrada –, tempo este em que ostenta, com certa adaptação, a belíssima caligrafia original da logomarca.
Nos começos, ninguém nem queria pagar por aquilo, era dada de graça, depois vendida em lojas de doces (com tampas de rolha), em bar, sorveteria, em farmácias, no meio de rua, afinal, quem conseguia classificar o que diabo era aquilo: remédio, refresco, enfeito? Só se sabia que fazia umas cosquinhas no nariz e ventava à boca. Só em 1916 ela viria naquela garrafinha bojuda que conhecemos. O designer queria fazer algo parecido com a fruta do cacau. Vai ver pensava que aquilo era de chocolate.
Nos anos 30, foi a Coca a enrolar as criancinhas com o gordo (de tanta Coca) Papai Noel rubro-negro. Durante a Segunda Guerra, numa estratégia brilhante e pra lá de curiosa, a Coca convenceu o governo dos Estados Unidos a levar na bagagem das tropas americanas, ao invés da foto de cabeceira da família, uma megareserva (e pequenas fábricas móveis) de Coca, o que fez dos soldados “cabeças de papel” os seus maiores divulgadores por todo o mundo. Inclusive, em Fortaleza, as mocinhas modernosas, fãs de cinema, comedoras de pop corns e fãs de pracinhas estrangeiros do Cassino do Estoril, logo, logo seriam rotuladas, como as garrafinhas, de “coca-colas”, sendo criticadas pela Igreja – sempre equivocada com as “boas novas” – e pelos rapazes da vizinhança que descobriam não ser a última Coca-Cola do deserto e que nem de longe beijavam como o Gable e o Bogart... “Eu tomo uma Coca-Cola, ela pensa em casamento”.
Contam-nos as línguas marrons que o Ministério da Saúde getulista teve de aumentar, nos seus protocolos, a quantidade aceita de ácido fosfórico em refrigerantes para que a Coca pudesse ser liberada no país. Na época, em experiência com ratos, sempre os melhores degustadores da Coca, os ossos esfarelavam. O problema, enfim, não é a Coca-Cola, é a falta de coador, gente. Tá vendo se vou parar de tomar esse troço... Já não fumo, não bebo, não como açúcar, não ouço funk nem forró de plástico... desse jeito vou viver muito e eu não quero não, ó. Viver dói demais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário