quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

"Cruviana" e o Simpósio sobre Literatura Cearense da UFC, por Pedro Salgueiro, para O POVO (18.12)


Cruviana é um ventinho que varre o Sertão de “dentro pra fora” – ao contrário do nosso bendito Vento Aracati, que voa das praias longínquas esfriando nosso calorão terra adentro. Dizem que o cruviana traz mau agouro, vem cheio de mandingas e coisas ruins; eu mesmo não acredito, pois que mal pode fazer uma aragenzinha, senão nos esfriar o juízo, nos trazer sonhos de outras terras e mares, levantando de quando em vez as saias das sertanejas.
Verdade que Guimarães Rosa antevia o Diabo redemoinhando nos terreiros, e o sonso vento-encanado entorta bocas e revira olhos... Nesses casos acho que o ventinho é mero transporte, grota que traz água boa e ruim.
Mas quem chegou mesmo de mansinho foi a revista potiguar Cruviana – de contos, como a nossa cearense Caos Portátil – assoprada pelo escritor e editor José de Paiva Rebouças, que antes da quinta edição em papel já havia mostrado quatro números na internet. Revista com cara de livro, variação de temas e estilos em seus bons relatos.
E esse norte-rio-grandense casado com uma bela cearense chega, como o vento que dá nome à sua publicação, de mansinho mas procurando companhia: quer interagir com escritores de outras terras e convoca os contistas cearenses para participar com nossas histórias e ideias, com nosso jeito bom para agrupamentos e convivências fraternas.
Aproveitemos, pois, essa saudável ventania, essa atitude rara entre literatos, de diálogo franco, de ir juntos com os outros, de mãos dadas: que a subida é pedregosa, e longa demais para se ir sozinho.

LITERATURA CEARENSE
Semana passada aconteceu o I Simpósio sobre Literatura Cearense, trazendo o tema “Para onde vai a Literatura?”, como parte integrante do o X Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, do Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Ceará. Foi capitaneado pela estudante (e jornalista) Lilian Martins, com apoio de Raymundo Netto (que juntou mais de uma centena de livros nossos para serem sorteados com os estudantes*) e outros abnegados.
O evento propiciou diálogos saudáveis entre nossos esquecidos escritores cearenses e jovens estudantes universitários; os debates, que aconteceram no auditório José Albano, vivificaram um pouco a nossa literatura, pois trouxe para dentro dos muros acadêmicos um pouquinho de nossas letras.

Quem sabe com repetição de encontros como esses as nossas instituições de ensino consigam se manter mais próximas do que é feito aqui fora dos muros acadêmicos, o que acredito contribuir muito para o engrandecimento não só da literatura cearense, mas da própria instituição, que necessita dialogar mais e mais com os diversos segmentos sociais do nosso estado.

(*) na realidade, o blog AlmanaCULTURA disponibilizou cerca de 200 exemplares distribuídos entre 170 títulos, aqui divulgados.

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