sexta-feira, 27 de junho de 2014

"Coval", de Raymundo Netto, numa noite de estrelas silenciosas


Uma estrela entra azul pela janela.
Batendo as asas, rasga o pensamento - pretenso último -
entornado em serpentinas redemunhas.
Nem certezas, nem ambições, nem saudades (ou todas),
somente a queixa turva da solidão que geme só,
aflita, cansada, muito cansada, de tanto remar sem rumar,
quando só queria abrir os braços, de barriga para o alto,
sentindo a água calar os ouvidos,
num olhar estranhamente apaixonado de um céu brilhante.

As cinzas do espírito me mostraram a tristeza por trás do nariz do palhaço.
Um sorriso abriu-se na parede,
a voz, aquela que vem de não sei onde,
a lembrar-me prestimosa:
Não queria felicidade, nem amor,
Mas apenas esperança.
A vida não é feita de desilusões,
assim é o Inferno!

Na arca de nossos dias, mancheias de sonhos esquecidos
em nome da egoística sobrevivência
- tanto sofrimento, tanta indiferença e tanta dor.
Ao redor, esculturas como gente se abraçam pesarosas.
Muito fingimento para suportar e esquecer
que todo adeus traz em si um gostinho de morte.

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