quinta-feira, 14 de maio de 2015

Lançamento de "A Primeira Esquina", de Airton Monte, pelas EDR (16.5)


Airton Monte (1949-2012), nascido “numa madrugada de temporal, entre raios e trovões, com o cordão umbilical enlaçando o pescoço feito a corda de uma forca”, razão pela qual deram-lhe o nome de Antônio “para que não corresse o risco de morrer afogado”, era, em suas próprias palavras, “um animal notívago, com alma de vira-latas, coração de velho gato de beira de telhado” ou mesmo “uma espécie de Peter Pan que não transformou-se em capitão Gancho quando cresceu.” Na sua natural vocação de bípede, sonhador incorrigível, caçador de discos voadores à noite escura, que “escrevia como se trocasse sopapos com a linguagem numa briga de rua”, e ciente de que “quem escreve só para agradar a crítica e ao público comete a mais covarde forma de suicídio literário”, havia na alma desse escrevinhador “uma doce nostalgia, além da compreensão de que a sua vida estava impressa em papel de jornal” e também a de que ele próprio era “um homem feito de papel e tinta fragílimos, que resistem ao passar do tempo, dando uma sensação de tênue imortalidade”. Cria: “qualquer dia podemos renascer pelas mãos de quem se lembre que algum dia existimos.”
Em seu exercício, postado à fiel Olivetti, rascunhando o caderno-presente da primamada Sônia, ou mesmo em blocos de receituário, defendia: o bom cronista tinha “que saber emocionar, dosar porrada com afeto, crueza da realidade com poesia do cotidiano. Ter opinião própria, escrever o que realmente sente e pensa. Ser de uma sinceridade suicida. Diante do leitor, o cronista deveria se sentir um pouco, a exagero da metáfora, como uma mulher na primeira consulta com o ginecologista.”
Com A Primeira Esquina, as EDR e o jornal O POVO prestam uma legítima e merecida homenagem a esse grande artista, um dos maiores representantes da crônica brasileira, hoje repousando ao lado da velha ponte, aquela que traz o sol entre as pernas. Airton, que iluminou as páginas da histórica folha e o sorriso de seus leitores durante todos os dias de anos a fio, tem agora mais esta seleção de crônicas entronizadas em altar de LIVRO. Fica a dica do autor: “A primeira esquina a gente nunca esquece.”
Raymundo Netto
SERVIÇO
Lançamento de A Primeira Esquina, de Airton Monte
Apresentação: Urico Gadelha e Demitri Túlio
Quando: dia 16 de maio (sábado), a partir das 17h
Local: Espaço O POVO de Cultura & Arte (av. Aguanambi, 282 - anexo à sede do jornal O POVO)

Em seguida, às 19h: show de Isaac Cândido e Marcus Dias "Algo Sobre a Distância e o Tempo"

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