sábado, 27 de fevereiro de 2016

"A Mulher e o Poeta", de João Soares Neto



Apenas em torno de uma mulher que ama pode surgir uma família.
 (F. Von Schlegel)

Esta semana fui ver fábrica comandada por uma mulher de fibra e talento. Fica no lado oeste da praça Presidente F. D. Roosevelt, no Jardim América. Roosevelt, como se sabe, foi presidente dos Estados Unidos até quase o final da Segunda Guerra. A ele foi prestada essa homenagem pela cidade. Aqui, no Pici, por acordo entre o oscilante mando de Vargas e a América do Norte, foi montada base de apoio – por ser próximo da África e da Europa – na travessia pelo céus do Atlântico Sul e reabastecimento das tropas contra os integrantes do Eixo, composto por Alemanha e Itália. Isto sem falar do Japão, pois situado no outro lado do mundo, a Ásia.
Essa digressão singela é apenas para dizer da alegria ao ver a coroação do esforço de Maria Soares Leitão, mulher, amiga e confidente de Juarez Leitão. Juarez teve livrarias, foi vereador e professor reconhecido de História Geral. Por fim, o casal montou uma fábrica de fardamentos profissionais e escolares. Na verdade, “montou” é licença poética. À frente de tudo está essa mulher destemida, bem vestida, no albor da sua maturidade e amor visível por aquilo que sabe fazer.
É encanto ver a sala de demonstração ou, como falam os anglicistas, o show-room. Centenas de modelos com pluralidade de cores e estilos. Cada peça, seja camisa, calça, jaleco, paletó, avental, macacão e outros que tais, tem corte perfeito, costuras retas e curvas com esmero. Tudo contém o toque pessoal da estilista que Maria Leitão se tornou. E é.
Ela traduz, em palavras adequadas, traçados, talhes, costuras e pespontos com sensibilidade e alegria. Quiçá o convívio com o inquieto bardo inoculou-se em seus gestos. Por trás de suas dioptrias emolduradas por óculos, ela vai dissertando sobre o fardamento escolar e a roupa profissional. As fardas exibem a imagem e o cuidado que empresas têm, respectivamente, com seus alunos e colaboradores.
Não sem razão, Maria Leitão é hoje empresária de sucesso para a dimensão que definiu. Parece artesania mecanizada com costureiras em filas simétricas, sob claras luzes a produzir beleza a influir no amor próprio daquelas pessoas que as vestirão.
Ainda não falei com o Juarez sobre as impressões que ora estão sendo escritas na pressa semanal de entregar o texto ao jornal. Agora, entendo, as confissões – não as de Santo Agostinho – que o poeta, professor, biógrafo e contador de “causos” me fez ao ter o seu coração renovado por bisturis, pontes e pontos. Era a consagração do liame que o atava, sem sufocar, à companheira de décadas concebendo família equilibrada e o aceitava, com ou sem versos, seus horários peculiares de sono e vigília.  Maria cuida até dos sucos e da goma para as tapiocas publicitadas por infiltrado em convescotes do Juarez com amigos palradores.


Nenhum comentário:

Postar um comentário